domingo, 18 de agosto de 2013

Resenha: José Murilo de Carvalho - A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil.

Resenha:
CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil. São Paulo. Companhia das Letras: 1990

O autor, de A Formação das almas: O imaginário da República, José Murilo de Carvalho possui graduação em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (1965), mestrado em Ciência Política - Stanford University (1969) e doutorado em Ciência Política - Stanford University (1975), pós-doutorado em História da América Latina na University of London (1977). Além disso, ele foi professor da Universidade Federal de Minas Gerais, no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, e professor visitante das universidades de Stanford, California-Irvine, Notre Dame (Estados Unidos), Leiden (Holanda), London e Oxford (Inglaterra) e na École des Hautes Études en Sciences Sociales (França). Foi pesquisador da Casa de Rui Barbosa, do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, e pesquisador visitante do Institute for Advanced Study de Princeton. Atualmente é professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio de Janeiro. É membro da Academia Brasileira de Ciências e da Academia Brasileira de Letras. Suas pesquisas e sua produção concentram-se na história do Brasil Império e Primeira República, com ênfase nos temas da cidadania, republicanismo e história intelectual. Em especial história social das idéias.
A obra de José M. de Carvalho, A Formação das Almas, o objeto da resenha, é dividido em seis partes, mais introdução e conclusão; o livro editado pela Companhia das Letras é destinado um público acadêmico, porém pela linguagem acessível pode atingir a outros públicos sem grande complicação.  O autor parte de um questionamento da sua obra anterior Os Bestializados, onde ele mostra a “nula participação popular” (p.09) na implantação da República. A partir daí ele procura mostrar nesta obra as tentativas de promover a legitimação do novo regime e avaliar a aceitação ou não por parte da população.
 O primeiro capítulo Utopias republicanas, mostra às diversas vertentes que existiam do republicanismo no Brasil, destas duas eram de inspiração francesa; sendo colocado neste capítulo em debate as ideologias que participariam da construção da República e as adaptações que foram feitas para adequá-las ao contexto brasileiro, eram elas: o jacobinismo, única vertente que incluía a participação popular, o positivismo ortodoxo de inspiração francesa e o liberalismo de inspiração norte americana, estas duas últimas que segundo Carvalho levavam mais em conta “aspectos da organização do poder” (p.22), contrapondo-se assim ao jacobinismo.
O segundo capítulo As proclamações da República retrata o embate ideológico republicano, no momento de “invenção” do novo regime, onde um mito de origem se constrói e busca-se a legitimação da República. Existe aqui também outra questão importante, que é o embate para ver quem iria ocupar os lugares de destaque, os papeis principais do novo regime, sobre isso Carvalho diz: “A luta maior é pela qualificação de fundador, disputada pelos partidários de Deodoro e Benjamin Constant. Quintino é raramente fundador; com freqüência aparece como patriarca ou apóstolo. Em torno de Floriano há mais consenso, pois veio depois: ele será o consolidador, o salvador da Republica.” (p.37). Como pode ser visto a luta principal fica entre os militares: Deodoro da Fonseca e Benjamin Constant, o primeiro com uma imagem que reforçava a proclamação da Republica como um ato militar; e o segundo com uma ideia mais abrangente, a de República como salvação da nação. Porém, segundo o autor, esse mito de origem ficou inconcluso.
O capítulo terceiro, Tiradentes: um herói para a República, mostra a apropriação e o processo que é chamado pelo autor de “heroificação” de um mito que emane os valores e as aspirações que exigiam o novo regime e a população; o herói segundo o autor é de suma importância para a legitimação de um novo poder e este tem que atingir o coração e a mente das pessoas para que seja um instrumento eficaz. Fica claro nessa passagem do livro a necessidade de adesão popular na criação de um panteão de heróis da República, pois na falta de uma figura dessas entre os republicanos foi preciso buscar nos inconfidentes mineiros a imagem já mitificada de Tiradentes. No caso, a imagem de Tiradentes é assimilada e modelada de acordo com a ideologia corrente e este se torna o rosto da República, um “totem cívico” (p.68) nas palavras de Carvalho.
No quarto capítulo é mostrado o esforço por parte dos positivista para transformar a figura feminina em imagem da República, a inspiração francesa ai é clara, porém sem apelo popular; no imaginário popular a figura religiosa de Maria era muito mais presente, ou seja, a Republica-mulher: entre Maria e Marinne mostra o fracasso da imagem feminina como representação da República e ainda a derrota da imagem cívica ante a religiosa. Talvez porque na matriz francesa a mulher tenha participado da revolução, o que serviu de base para a aceitação da imagem feminina; para tal explicação Carvalho utiliza a idéia de Buczko de comunidade de sentido ao dizer que “o imaginário, apesar de manipulável, necessita, para criar raízes, de uma comunidade de imaginação, de uma comunidade de sentido.” (p.89). O que não existia no momento de instauração da República.
O quinto capítulo Bandeira e Hino: o peso da tradição mostra a princípio a vitória parcial da tradição, com relação à bandeira nacional, onde é aceito o desenho e as cores da bandeira imperial, com algumas modificações como a circunferência azul e a faixa branca com os dizeres – diga-se de passagem, positivistas – ordem e progresso. Além disso, ocorre o que, segundo Carvalho, é um dos únicos, se não o único momento de participação popular na criação da Republica; momento este em que é desprezada a “Marselhesa” francesa por parte dos populares e é consagrado como hino nacional o mesmo do período anterior, que por fatores históricos já estava enraizado no imaginário popular, já que o capitulo também relata a emoção das pessoas ante estes símbolos, em especial o hino, sendo esta uma vitória completa da tradição.
Em, O positivista e a manipulação do imaginário, sexto e último capítulo do livro de Carvalho, é mostrado como os positivistas, em especial os ortodoxos estavam à frente da construção do imaginário republicano e a atuação destes sempre com base nas doutrinas de Comte, com algumas adaptações as especificidades do contexto brasileiro da época. O campo de atuação principal dos positivistas foi à política, principalmente na manipulação do imaginário, foi despendido deles o maior esforço para legitimar a República.
Por fim o livro de José Murilo de Carvalho mostra que houve sim a tentativa de legitimar a República que surgia. Apesar de não se aprofundar em algumas questões referentes à legitimação, como o calendário republicano, assunto que é tratado a partir da lacuna de Carvalho em texto de Elisabete da Costa Leal.  Contudo faltavam raízes a mesma para que conseguisse ser fixada no imaginário popular. Os símbolos que tiveram adesão e foram identificados são aqueles que tinham ou um apelo religioso, no caso de Tiradentes associado à figura de Jesus Cristo; ou os que remetiam ao regime político anterior, como no caso da bandeira e do hino nacional, que provavelmente criaram suas raízes na mente popular no período da Guerra do Paraguai. Lembrando que foi tentado por parte dos republicanos não só tornar o regime aceito; mas também amado, houve um esforço para o lado da produção de sentimentos por parte dos positivistas, que assim como a invenção da República, foi inconclusa.

Bibliografia:
CARVALHO, José Murilo de. A Formação das Almas: O Imaginário da República no Brasil. São Paulo. Companhia das Letras: 1990.
CARVALHO, José Murilo de. Os bestializados: o Rio de Janeiro e a República que não foi. São Paulo: Companhia da Letras, 1987.
CHAUI, Marilena. Brasil: mito fundador e sociedade autoritária. São Paulo. Editora Fundação Perseu Abramo: 2000. 
LEAL, Elisabete da Costa. O calendário Republicano e a Festa Cívica do Descobrimento do Brasil em 1890: versões de história e militância positivista. IN: HISTÓRIA, São Paulo, v.25, n.2. p.64-93, 2006.

sábado, 17 de agosto de 2013

Fichamento: Pierre Bourdieu - A excelência dos valores do ensino francês

Fichamento:

Bourdieu, Pierre. A excelência dos valores do sistema de ensino francês. In: A economia das trocas simbólicas. S.P: Ed. Perspectiva, 2007.

  • O texto de Bourdieu mostra como o sistema de ensino, no caso o francês, reproduz a hierarquia social vigente.

  • O sistema que alega utilizar-se da meritocracia, quando na verdade fundamenta-se em “critérios sociais”. (BOURDIEU, p. 239)

  • O critério “meritocrático” tende a maquiar as desigualdades do próprio sistema, ao não levar em conta a bagagem cultural trazida pelos diferentes grupos sociais ou levando em conta somente os valores culturais dos grupos privilegiados.

  • Nos grupos sociais elevados a precocidade é tida como positiva, e a criança que tem um conhecimento elevado é vista como prodígio, sobre isso Bourdieu diz que:

  • “(...) a precocidade é tão somente um dos mecanismos ideológicos pelos quais o sistema educacional tende a transformar privilégios sociais em naturais e não de nascimento.” (BOURDIEU, p.?)


  • Nesse sentido, a escola reproduz o que os grupos privilegiados consideram relevante, a meritocracia então serve de respaldo para justificar os erros produzidos em sociedade para dentro do ambiente escolar. Fazendo isso ocorre uma desqualificação da cultura popular, trazendo a tona uma série de preconceitos no tratamento com os educandos, o que produz desigualdades em todos os âmbitos da vida dos mesmos.