sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Crise de 1929: o pensamento radical na América do Norte

Este texto foi elaborado como um trabalho de faculdade para na disciplina de História dos Estados Unidos com o objetivo de relacionar dois textos a um período da História dos Estados Unidos, fazendo relações possíveis entre os mesmos, o tema escolhido foi a Crise de 1929.

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A crise de 1929 dos Estados Unidos se encaixa no que Eric Hobsbawn chama de Era da Catástrofe, no colapso econômico do entre guerras, para este autor o mundo, na segunda metade do século XX é incompreensível se não entendermos o colapso econômico, sendo os Estados Unidos da América parte fundamental no assunto. “Na verdade, mesmo os orgulhosos Estados Unidos, longe de serem um porto seguro das convulsões de continentes menos afortunados, se tornaram o epicentro deste que foi o maior terremoto global medido na escala Richter dos historiadores econômicos – a Grande Depressão do entre guerras.” (HOBSBAWN, 1995, pp. 91)
O autor coloca a economia estadunidense como a mais forte após a Primeira Grande Guerra, enquanto os países europeus viviam um desemprego em torno de 10%, os Estados Unidos viviam um de 4% nos anos 20, trazendo consigo o peso de ser o maior exportador e o segundo maior importador, conseqüentemente tornou-se a principal vítima da Grande Depressão.
No entanto, segundo Hobsbawn, a ideia de crise seculares, que viriam de tempos em tempos, estava presente no pensamento da época, como a idéia de intempéries do tempo estava presente na mentalidade de um agricultor, sendo a crise algo esperado; o que não se esperava era a profundidade da Crise de 1929 com a quebra da Bolsa de Nova Yorque e o circulo viciosos em que parecia presa a economia mundial, em que indicadores econômicos, tirando o desemprego que subia as alturas, caiam vertiginosamente, um exemplo é que a produção industrial norte americana caiu um terço entre 1929-1931 e no auge da crise, 1932-3 o desemprego nos Estados Unidos estava em 29%.
Outro fator novo foi que a crise de 29 ofereceu perigo ao sistema capitalista, já que, desta vez, havia a alternativa socialista ativa na figura da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), tanto que um dos resultados para tentar barrar os radicalismos de esquerda, e hoje sabemos de direita, foi que “a Grande Depressão obrigou os governos ocidentais a dar as considerações sociais prioridade sobre as econômicas em suas políticas de Estados.” (Idem, pp.99)
O Keynesianismo que surge como pensamento econômica é usado com objetivos políticos e sociais, a ideia de Keynes era a de que a demanda gerada pela renda de trabalhadores com pleno emprego teria o mais estimulante efeito nas economias em recessão. Outra palavra que passou a fazer parte do vocabulário do período da Grande Depressão foi o “planejamento” ou “plano” pensada a partir do modelo soviético e utilizada nos países ocidentais.
Hobsbawn coloca a questão: “Porque a economia capitalista não funcionou no entre guerras?” (Idem, pp.101) e como já foi dito, o autor, coloca a situação econômica dos Estados Unidos como essencial a qualquer resposta a essa pergunta e aponta duas motivações principais.
A primeira é que os Estados Unidos tornaram-se, após a Primeira Guerra, o centro da economia mundial, sendo o maior credor do período, com investimentos, principalmente, na Europa e nos países ocidentais, tudo isso sem a preocupação de agir como estabilizador global.
“A segunda perspectiva da Depressão se fazia na não geração, pela economia mundial, de demanda suficiente para uma expansão duradoura.” (Idem, pp.104); Ou seja, o aumento da produção, da especulação e dos lucros em detrimento de salários estagnados, colaboraram de forma efetiva para a crise.
A outra abordagem escolhida para o trabalho é a de T. B. Bottomore, sociólogo, que vai tratar o pensamento radical na América do Norte, segundo este autor, “a animação gloriosa da Era do Jazz chegou ao fim com a grande crise de 1929. Nos anos de depressão econômica que se seguiu, quando um quarto dos trabalhadores americanos estavam desempregados e muito dos que ainda tinham emprego viviam em pobreza objeta, quando o sonho americano se tinha esvanecido e todo o sistema econômico pereceu, durante certo tempo, estar à beira do colapso final, ressurgiu (nos Estados Unidos) a crítica social.” (BOTTOMORE, 1970, pp.37)
Bottomore diz que o período de 1930 é muitas vezes considerado um período “marxista” da vida intelectual estadunidense, no entanto, para ele, tal ideia não era aceita em larga escala e não houve qualquer sistema significativo de pensamento social marxista diretamente aplicado à sociedade e à cultura norte americana, o que não quer dizer, que muitos escritos desta época não tenham influenciado membros da assessoria de peritos de Roosevelt e os arquitetos do New Deal.
Para o autor, as idéias do marxismo relacionam-se mais a literatos intelectuais ao dizer que na década de 20 satirizavam a cultura econômica estadunidense julgando-a muito forte para ser subvertida e que na década de 1930 atacaram-na de forma direta, pois neste momento, parecia não apenas bárbara, mas também, incompetente e condenada, enquanto uma alternativa viável parecia ser o Comunismo Russo.
O autor cita estudos feitos na época da Grande Depressão que mostram haver tensões entre trabalhadores e os grupos dominantes, no entanto, segundo eles estas tensões partiam de demandas e ressentimento individuais, pessoais, não havendo de forma efetiva a criação de uma consciência de classe, partindo de um estudo localizado, Bottomore estende tal pensamento a maioria do país e diz que o marxismo permaneceu como a ocupação de pequenas seitas políticas e embora tivesse penetrado o ambiente intelectual, não criou uma escola nova de crítica social, tanto que os principais estudos críticos do período não foram feitas por marxistas.
O autor diz que uma das principais críticas foi feita a partir de estudos como os de Adolf Berle Jr. e Gardiner Means, The Modern Corporation and Prinvate Proprerty, que demonstraram que havia uma concentração das empresas estadunidenses nas mão de uns poucos grupos e que as relações na economia deveriam mudar a ponto de concluir que a economia como um todo deveria ser regulada pelo Estado e que nesse quadro a comunidade econômica deveria ocupar uma nova posição, muito mais próxima da de um estadista do que da de um propagandista envolvido em negociações pura e simplesmente, esta é a proposta de um “capitalismo administrado” sem qualquer objetivo de mudança social.
Portanto para este autor a crise poderia servir para o florescimento de um marxismo no pensamento norte americano, mas não foi o que aconteceu o que se julgou ser, subseqüentemente, a aceitação do marxismo era apenas, às vezes, a expressão geral de uma simpatia com o socialismo, ou, mas especificamente, com as diretrizes econômicas e sociais da URSS, em especial com a ideia já colocada anteriormente por Hobsbawn de plano econômico.
A URSS apareceu, neste contexto, como portadora de uma sociedade que havia resolvido os problemas da crise econômica por meio de um planejamento racional, e se tinha a percepção de que ela também havia implantando o estado de bem estar social superiores ao dos países capitalistas, daí a simpatia dos intelectuais. Daí, também, a surpresa pela não radicalização e o não surgimento de movimento marxistas nos Estados unidos, pois, segundo o autor, havia ai uma vaga para a chamada terceira opção.
“A inexistência de um movimento radical – cujo lugar foi tomado por protestos e revoltas esporádicos entre os estudantes, agricultores e desempregados – e a incapacidade de se elaborar uma teoria social efetiva estavam relacionados entre si.” (Idem, pp.44) Além disso, é apontada a distância dos intelectuais em relação às massas. Tanto que nas eleições americanas, acredito que de 1935, apenas 0,25% do eleitorado havia votado nos comunistas, a maioria dos desempregados e flagelados pela carestia e pela fome optaram por votar em Hoover ou em Roosevelt sobre isso diz Battomore: “Após três anos de tática sanguinária e de provocações, em que os manifestantes e os grevistas se tinham reunido em grande número de cidades americanas, as massas votaram teimosamente nos republicanos ou nos democratas.” (Idem, pp. 44)
Por fim o autor ressalta que os Estados Unidos tem um pensamento conservador histórico, que se soma aos fatores acima citados, para não ter havido uma radicalização da esquerda no país, diferente, por exemplo, do que o ocorreu na Europa, onde mesmo derrotado, os partidos Comunistas e Socialistas ainda tinham alguma vitalidade e base popular.
Entre os norte americanos, não havia nenhuma opção oferecida pela esquerda, que pudesse contrapor o New Deal de Roosevelt.   “O New Deal engendrou um novo otimismo, ressuscitou, por algum tempo, o sentimento populista do começo do século, tendo oferecido, pelo menos, a esperança de uma economia mais eficientemente administrada. Além do mais, sempre que quaisquer idéias novas e poderosas apareçam nesse decênio, diziam respeito às instituições e aos problemas de uma sociedade tecnológica e administrativa, e floresciam no circulo dos assessores técnicos do New Deal, mesmo quando não eram propostas por eles.” (Idem, pp.46)
O Pensamento de Battomore converge em alguns momentos com a abordagem mais geral de Eric Hobsbawn, em pontos como a influência dos planos econômicos soviéticos na reorganização econômica após a crise de 29, dando um exemplo pontual da simpatia dos intelectuais críticos norte americanos da época, ou na vaga que surgiu para uma terceira opção que não foi ocupada pelo Socialismo, como poderia se esperar nos Estados Unidos, mesmo ao tratar de um assunto, como o pensamento radical norte americano em uma abordagem sociológica é possível traçar este paralelo entre os autores.


Bibliografia:
BATTOMORE, T. B. Críticos da sociedade: O pensamento radical na América do Norte. Rio de Janeiro: Zahar, 1970.

HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos: O breve século XX (1914-1991). São Paulo: Cia. das Letras, 1995.