Este texto foi elaborado como um trabalho de faculdade para na disciplina de História dos Estados Unidos com o objetivo de relacionar dois textos a um período da História dos Estados Unidos, fazendo relações possíveis entre os mesmos, o tema escolhido foi a Crise de 1929.
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A crise de 1929 dos Estados Unidos se encaixa no que
Eric Hobsbawn chama de Era da Catástrofe, no colapso econômico do entre
guerras, para este autor o mundo, na segunda metade do século XX é
incompreensível se não entendermos o colapso econômico, sendo os Estados Unidos
da América parte fundamental no assunto. “Na verdade, mesmo os orgulhosos
Estados Unidos, longe de serem um porto seguro das convulsões de continentes
menos afortunados, se tornaram o epicentro deste que foi o maior terremoto
global medido na escala Richter dos historiadores econômicos – a Grande
Depressão do entre guerras.” (HOBSBAWN, 1995, pp. 91)
O autor coloca a economia estadunidense como a mais
forte após a Primeira Grande Guerra, enquanto os países europeus viviam um
desemprego em torno de 10%, os Estados Unidos viviam um de 4% nos anos 20,
trazendo consigo o peso de ser o maior exportador e o segundo maior importador,
conseqüentemente tornou-se a principal vítima da Grande Depressão.
No entanto, segundo Hobsbawn, a ideia de crise
seculares, que viriam de tempos em tempos, estava presente no pensamento da
época, como a idéia de intempéries do tempo estava presente na mentalidade de
um agricultor, sendo a crise algo esperado; o que não se esperava era a
profundidade da Crise de 1929 com a quebra da Bolsa de Nova Yorque e o circulo
viciosos em que parecia presa a economia mundial, em que indicadores
econômicos, tirando o desemprego que subia as alturas, caiam vertiginosamente,
um exemplo é que a produção industrial norte americana caiu um terço entre
1929-1931 e no auge da crise, 1932-3 o desemprego nos Estados Unidos estava em
29%.
Outro fator novo foi que a crise de 29 ofereceu
perigo ao sistema capitalista, já que, desta vez, havia a alternativa
socialista ativa na figura da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas
(URSS), tanto que um dos resultados para tentar barrar os radicalismos de
esquerda, e hoje sabemos de direita, foi que “a Grande Depressão obrigou os
governos ocidentais a dar as considerações sociais prioridade sobre as
econômicas em suas políticas de Estados.” (Idem, pp.99)
O Keynesianismo que surge como pensamento econômica é
usado com objetivos políticos e sociais, a ideia de Keynes era a de que a
demanda gerada pela renda de trabalhadores com pleno emprego teria o mais
estimulante efeito nas economias em recessão. Outra palavra que passou a fazer
parte do vocabulário do período da Grande Depressão foi o “planejamento” ou
“plano” pensada a partir do modelo soviético e utilizada nos países ocidentais.
Hobsbawn coloca a questão: “Porque a economia capitalista
não funcionou no entre guerras?” (Idem, pp.101) e como já foi dito, o autor,
coloca a situação econômica dos Estados Unidos como essencial a qualquer
resposta a essa pergunta e aponta duas motivações principais.
A primeira é que os Estados Unidos tornaram-se, após
a Primeira Guerra, o centro da economia mundial, sendo o maior credor do
período, com investimentos, principalmente, na Europa e nos países ocidentais,
tudo isso sem a preocupação de agir como estabilizador global.
“A segunda perspectiva da Depressão se fazia na não
geração, pela economia mundial, de demanda suficiente para uma expansão
duradoura.” (Idem, pp.104); Ou seja, o aumento da produção, da especulação e
dos lucros em detrimento de salários estagnados, colaboraram de forma efetiva para
a crise.
A outra abordagem escolhida para o trabalho é a de T.
B. Bottomore, sociólogo, que vai tratar o pensamento radical na América do
Norte, segundo este autor, “a animação gloriosa da Era do Jazz chegou ao fim
com a grande crise de 1929. Nos anos de depressão econômica que se seguiu,
quando um quarto dos trabalhadores americanos estavam desempregados e muito dos
que ainda tinham emprego viviam em pobreza objeta, quando o sonho americano se
tinha esvanecido e todo o sistema econômico pereceu, durante certo tempo, estar
à beira do colapso final, ressurgiu (nos Estados Unidos) a crítica social.”
(BOTTOMORE, 1970, pp.37)
Bottomore diz que o período de 1930 é muitas vezes
considerado um período “marxista” da vida intelectual estadunidense, no
entanto, para ele, tal ideia não era aceita em larga escala e não houve
qualquer sistema significativo de pensamento social marxista diretamente
aplicado à sociedade e à cultura norte americana, o que não quer dizer, que
muitos escritos desta época não tenham influenciado membros da assessoria de
peritos de Roosevelt e os arquitetos do New Deal.
Para o autor, as idéias do marxismo relacionam-se
mais a literatos intelectuais ao dizer que na década de 20 satirizavam a
cultura econômica estadunidense julgando-a muito forte para ser subvertida e
que na década de 1930 atacaram-na de forma direta, pois neste momento, parecia
não apenas bárbara, mas também, incompetente e condenada, enquanto uma
alternativa viável parecia ser o Comunismo Russo.
O autor cita estudos feitos na época da Grande
Depressão que mostram haver tensões entre trabalhadores e os grupos dominantes,
no entanto, segundo eles estas tensões partiam de demandas e ressentimento
individuais, pessoais, não havendo de forma efetiva a criação de uma consciência
de classe, partindo de um estudo localizado, Bottomore estende tal pensamento a
maioria do país e diz que o marxismo permaneceu como a ocupação de pequenas
seitas políticas e embora tivesse penetrado o ambiente intelectual, não criou
uma escola nova de crítica social, tanto que os principais estudos críticos do
período não foram feitas por marxistas.
O autor diz que uma das principais críticas foi feita
a partir de estudos como os de Adolf Berle Jr. e Gardiner Means, The Modern Corporation and Prinvate Proprerty,
que demonstraram que havia uma concentração das empresas estadunidenses nas mão
de uns poucos grupos e que as relações na economia deveriam mudar a ponto de
concluir que a economia como um todo deveria ser regulada pelo Estado e que
nesse quadro a comunidade econômica deveria ocupar uma nova posição, muito mais
próxima da de um estadista do que da de um propagandista envolvido em
negociações pura e simplesmente, esta é a proposta de um “capitalismo
administrado” sem qualquer objetivo de mudança social.
Portanto para este autor a crise poderia servir para
o florescimento de um marxismo no pensamento norte americano, mas não foi o que
aconteceu o que se julgou ser, subseqüentemente, a aceitação do marxismo era
apenas, às vezes, a expressão geral de uma simpatia com o socialismo, ou, mas
especificamente, com as diretrizes econômicas e sociais da URSS, em especial
com a ideia já colocada anteriormente por Hobsbawn de plano econômico.
A URSS apareceu, neste contexto, como portadora de
uma sociedade que havia resolvido os problemas da crise econômica por meio de
um planejamento racional, e se tinha a percepção de que ela também havia
implantando o estado de bem estar social superiores ao dos países capitalistas,
daí a simpatia dos intelectuais. Daí, também, a surpresa pela não radicalização
e o não surgimento de movimento marxistas nos Estados unidos, pois, segundo o
autor, havia ai uma vaga para a chamada terceira opção.
“A inexistência de um movimento radical – cujo lugar
foi tomado por protestos e revoltas esporádicos entre os estudantes,
agricultores e desempregados – e a incapacidade de se elaborar uma teoria
social efetiva estavam relacionados entre si.” (Idem, pp.44) Além disso, é
apontada a distância dos intelectuais em relação às massas. Tanto que nas eleições
americanas, acredito que de 1935, apenas 0,25% do eleitorado havia votado nos
comunistas, a maioria dos desempregados e flagelados pela carestia e pela fome
optaram por votar em Hoover ou em Roosevelt sobre isso diz Battomore: “Após
três anos de tática sanguinária e de provocações, em que os manifestantes e os
grevistas se tinham reunido em grande número de cidades americanas, as massas
votaram teimosamente nos republicanos ou nos democratas.” (Idem, pp. 44)
Por fim o autor ressalta que os Estados Unidos tem um
pensamento conservador histórico, que se soma aos fatores acima citados, para
não ter havido uma radicalização da esquerda no país, diferente, por exemplo,
do que o ocorreu na Europa, onde mesmo derrotado, os partidos Comunistas e
Socialistas ainda tinham alguma vitalidade e base popular.
Entre os norte americanos, não havia nenhuma opção
oferecida pela esquerda, que pudesse contrapor o New Deal de Roosevelt. “O New Deal engendrou um novo otimismo,
ressuscitou, por algum tempo, o sentimento populista do começo do século, tendo
oferecido, pelo menos, a esperança de uma economia mais eficientemente
administrada. Além do mais, sempre que quaisquer idéias novas e poderosas
apareçam nesse decênio, diziam respeito às instituições e aos problemas de uma sociedade
tecnológica e administrativa, e floresciam no circulo dos assessores técnicos
do New Deal, mesmo quando não eram propostas por eles.” (Idem, pp.46)
O Pensamento de Battomore converge em alguns momentos
com a abordagem mais geral de Eric Hobsbawn, em pontos como a influência dos
planos econômicos soviéticos na reorganização econômica após a crise de 29,
dando um exemplo pontual da simpatia dos intelectuais críticos norte americanos
da época, ou na vaga que surgiu para uma terceira opção que não foi ocupada pelo
Socialismo, como poderia se esperar nos Estados Unidos, mesmo ao tratar de um
assunto, como o pensamento radical norte americano em uma abordagem sociológica
é possível traçar este paralelo entre os autores.
Bibliografia:
BATTOMORE, T. B. Críticos da
sociedade: O pensamento radical na América do Norte. Rio de Janeiro: Zahar,
1970.
HOBSBAWN, Eric. Era dos extremos:
O breve século XX (1914-1991). São Paulo: Cia. das Letras, 1995.
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