Fichamento:
FERNANDES,
Florestan. O negro no mundo dos brancos.
2ºEd. SP: Global, 2007.
Apresentação de
Lilia Moritz Schwarcz – Raça Sempre Deu o que Falar
“O conjunto de pesquisas do autor
apontava, dessa forma, para novas facetas da “miscigenação brasileira”. Sobrevivia,
enquanto legado histórico, um sistema enraizado de hierarquização social que
introduzia gradações de prestígio a partir de critérios como classe social,
educação formal, origem familiar e todo um carrefour
de cores (...) Chamado por Fernandes de “metamorfose do escravo”, o processo
brasileiro de exclusão social desenvolveu-se de modo a empregar termo como
“preto” ou “negro” – que formalmente remetem à cor de pele – em lugar da noção
de classe subalterna; nesse movimento que constantemente apaga o conflito.
Invertia-se, pois, a questão: a estrutura social é que era um problema para o
negro uma vez que bloqueava sua cidadania plena.” (p.18-19)
“A pergunta que orienta o livro de
Fernandes é direta: como se coaduna a modernidade com a integração no negro? Como
combinar ordem capitalista e racional com ordem estamental e escravocrata? Por
isso mesmo, pode-se dizer que o autor não estudou a propriamente a questão
negra no Brasil, mas antes as descontinuidades da modernidade, tendo como
suporte a problemática racial.”(p.19)
“No entanto, desta vez o problema
central desloca-se para a dualidade – ordem social versus estamental – no sentido de entender a situação do negro a
partir de perspectivas não só sincrônicas como diacrônicas”(p.19)
“Nos diferentes ensaios que compõe
esse livro o autor denuncia a supremacia da “raça branca”, acusa a “acomodação
racial vigente” e seu papel no sentido de abstar ao negro seu ligar como
protagonista da própria história.”(p.20)
“Apontando as clivagens sociais
como centrais na análise e condução desses problemas, o autor desmonta um mito
nacional e clama para que a população negra tome papel ativo na construção de
seus destinos ou que não se identifique com o “branqueamento psicossocial e
moral” desse “mundo dos brancos”.”(p.20-21)
“Ao mesmo tempo que convivemos,
não com a realidade, mas com um ideal de democracia racial, um racismo brutal
vigora entre nós. Assim, demonstrar as falácias do mito talvez seja tão
importante quanto refletir sobre sua eficácia, enquanto representação e acerca
da dificuldade que temos em lidar com o tema.”(p.21)
“(...) mitos só são eficazes
porque fazem sentido numa comunidade imaginada e partilhada.”(p.21-22)
“Por isso mesmo, o preconceito não
é apenas um “legado”; ele se refaz no presente e mostra como a ideal de
democracia racial vem ganhando novos contornos. Ou seja, a “desconstrução”.
Fernandes, de certa maneira, circunscreveu o mito e o tema da raça a uma
questão de classes e abandonou a cultura.”(p.22)
“Interessante notar que, nos anos
de 1980 e 1990, uma série de estudos recuperou o tema, assim como as análises
de base demográfica, e demonstrou como o preconceito de cor não está apenas
atrelado a questões econômicas e sociais”(Idem)
“A tese geral é que tais
desigualdades apresentam um componente racial inequívoco e relevante, que não
pode ser resumido a partir de uma perspectiva socioeconômica. Em questão está
pensar não só a “herança”, mas a reposição do preconceito.”(Idem)
“Por outro lado, a nova
historiografia expandiu a ideia de “coisificação do escravo” e mostrou como os
cativos não eram só passivos, mas agiam, reagiam e encontravam respostas
criativas à sua situação; eram “sujeitos” e não só “objetos” de sua
condição.”(Idem)
“Trabalhos sobre a história social
dos escravos, acerca da família, a da vida cultural e mesmo comunitária,
tomaram vulto nos anos 1980, mostrando como era possível ir além da
“sobrevivência”.”(p.23)
“Se é preciso destacar o lado
mercantil e violento do sistema, como bem demonstrou Fernandes, não é por isso
que se apaga a atuação cotidiana dos escravos, que se utilizavam das frestas do
sistema e negociavam sua condição.”(Idem)
“A verdadeira obra não é
terminada, mas é aquela que continua e não deixa colocar um confortável ponto
final.”(Idem)
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