sábado, 18 de outubro de 2014

Fichamento:Florestan Fernandes: O negro no mundo dos brancos

Fichamento:

FERNANDES, Florestan. O negro no mundo dos brancos. 2ºEd. SP: Global, 2007.

Apresentação de Lilia Moritz Schwarcz – Raça Sempre Deu o que Falar
“O conjunto de pesquisas do autor apontava, dessa forma, para novas facetas da “miscigenação brasileira”. Sobrevivia, enquanto legado histórico, um sistema enraizado de hierarquização social que introduzia gradações de prestígio a partir de critérios como classe social, educação formal, origem familiar e todo um carrefour de cores (...) Chamado por Fernandes de “metamorfose do escravo”, o processo brasileiro de exclusão social desenvolveu-se de modo a empregar termo como “preto” ou “negro” – que formalmente remetem à cor de pele – em lugar da noção de classe subalterna; nesse movimento que constantemente apaga o conflito. Invertia-se, pois, a questão: a estrutura social é que era um problema para o negro uma vez que bloqueava sua cidadania plena.” (p.18-19)
“A pergunta que orienta o livro de Fernandes é direta: como se coaduna a modernidade com a integração no negro? Como combinar ordem capitalista e racional com ordem estamental e escravocrata? Por isso mesmo, pode-se dizer que o autor não estudou a propriamente a questão negra no Brasil, mas antes as descontinuidades da modernidade, tendo como suporte a problemática racial.”(p.19)
“No entanto, desta vez o problema central desloca-se para a dualidade – ordem social versus estamental – no sentido de entender a situação do negro a partir de perspectivas não só sincrônicas como diacrônicas”(p.19)
“Nos diferentes ensaios que compõe esse livro o autor denuncia a supremacia da “raça branca”, acusa a “acomodação racial vigente” e seu papel no sentido de abstar ao negro seu ligar como protagonista da própria história.”(p.20)
“Apontando as clivagens sociais como centrais na análise e condução desses problemas, o autor desmonta um mito nacional e clama para que a população negra tome papel ativo na construção de seus destinos ou que não se identifique com o “branqueamento psicossocial e moral” desse “mundo dos brancos”.”(p.20-21)
“Ao mesmo tempo que convivemos, não com a realidade, mas com um ideal de democracia racial, um racismo brutal vigora entre nós. Assim, demonstrar as falácias do mito talvez seja tão importante quanto refletir sobre sua eficácia, enquanto representação e acerca da dificuldade que temos em lidar com o tema.”(p.21)
“(...) mitos só são eficazes porque fazem sentido numa comunidade imaginada e partilhada.”(p.21-22)
“Por isso mesmo, o preconceito não é apenas um “legado”; ele se refaz no presente e mostra como a ideal de democracia racial vem ganhando novos contornos. Ou seja, a “desconstrução”. Fernandes, de certa maneira, circunscreveu o mito e o tema da raça a uma questão de classes e abandonou a cultura.”(p.22)
“Interessante notar que, nos anos de 1980 e 1990, uma série de estudos recuperou o tema, assim como as análises de base demográfica, e demonstrou como o preconceito de cor não está apenas atrelado a questões econômicas e sociais”(Idem)
“A tese geral é que tais desigualdades apresentam um componente racial inequívoco e relevante, que não pode ser resumido a partir de uma perspectiva socioeconômica. Em questão está pensar não só a “herança”, mas a reposição do preconceito.”(Idem)
“Por outro lado, a nova historiografia expandiu a ideia de “coisificação do escravo” e mostrou como os cativos não eram só passivos, mas agiam, reagiam e encontravam respostas criativas à sua situação; eram “sujeitos” e não só “objetos” de sua condição.”(Idem)
“Trabalhos sobre a história social dos escravos, acerca da família, a da vida cultural e mesmo comunitária, tomaram vulto nos anos 1980, mostrando como era possível ir além da “sobrevivência”.”(p.23)
“Se é preciso destacar o lado mercantil e violento do sistema, como bem demonstrou Fernandes, não é por isso que se apaga a atuação cotidiana dos escravos, que se utilizavam das frestas do sistema e negociavam sua condição.”(Idem)

“A verdadeira obra não é terminada, mas é aquela que continua e não deixa colocar um confortável ponto final.”(Idem)